segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O cumpridor de promessas

Dois anos e oito meses e só conseguiu realmente sentir a brisa e inspirá-la de modo visceral, quando deu o primeiro passo para fora do hospital psiquiátrico onde jamais se sentira bem vindo ou adequado.
Após o impessoal ruído metálico das portas se fechando atrás de si (2 anos e oito meses antes o mundo estava atrás, agora, o inferno), pode viver aquele ar puro, campestre.
Um amor. Quase três anos de tortura por amar uma mulher. Respirou fundo mais uma vez e decidiu dar seus primeiros passos em liberdade – sabia no fundo que jamais estaria livre daquela chaga negra em seu espírito -.
Por um tempo caminhou a esmo, já que não tinha ninguém que o esperasse ou alguém para esperar. Continuou deliciando-se conforme lhe foi possível com o sopro leve e frio das montanhas de outono.
Sentia o empurrão de vento dos raros carros que passavam e imaginava que tipo de vida se escondia atrás daquelas armaduras de metal quando, finalmente, encontrou um café de beira de estrada que assim como a estrada estava cercado pela vegetação densa e autunal.
Entrou, esquentou o balcão com sua barriga inexistente e pediu um Pernod Ricard, com muito gelo por favor. O primeiro gole o fez sua de prazer e de angústia, na mente voltava o primeiro choque e os vômitos causados por pesadíssimos anti-depressivos.
Sorriu. Era livre agora, livre para um novo rumo, uma nova vida, livre para sofrer sozinho com suas lembranças e escolhas, jurou que manteria aquele sorriso e aquela sensação de alegria até o seu último segundo. Sentia isso fundo na alma.
O segundo gole trouxe prazer físico e moral, pediu um peixe grelhado e perguntou se poderia conhecer a cozinha.
Cozinha simples, mas organizada, honesta. Ao dizer olá muito prazer aos de direito, pegou a primeira faca que lhe pareceu afiada e dilacerou o próprio pescoço.

Desabou sorrindo, e o mesmo sorriso permaneceu.

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