Sempre fui absolutamente imediatista
Sempre agi por puro e profundo impulso
Todo impulso que eu reprimo me faz morrer
E de tantas mortes já não sei mais o que é estar vivo
Enterrado em cárcere arbitrário já não sei o que persigo
Talvez por ser tão imediatista eu fique tão estagnado
Não consigo me mexer, já não posso fazer nada do passado
Vejo a vida beber minha liberdade que nunca houve
Vejo minha juventude sem sentido ou razão perecer
E sem nenhum motivo, existir me faz morrer
Esperando algo acontecer jurando que jamais serei
O mesmo tão ruim assim tenho de ser forte e grande
Tenho de aproveitar o ar que meus pulmões expande
E superar as trilhas de carmim
Ouvindo os tristes silvos da madrugada me sinto
Tão opaco
Vejo tudo que fiz e minto
Tentando me convencer de que tudo será melhor
Entrego-me primeiro a Baco
E logo após a Morfeu que vem trazer súcubos
A atormentar meu sono frágil
Fico toda tarde em estupor
Existo e morro mais uma vez
Ao saber que amigos meus
Esqueceram da minha dor
Sei que de mim resta o fulgor
Das cinzas daquilo que poderia ter sido
Se não fosse tão melancólico assim
Sei que tudo que eu tentei fazer de bom acabou sendo maldade
Eu sinto aquilo que um dia fora próximo se afastando lentamente
Cada vez mais se adensando, se mesclando com a bruma no horizonte inalcançável.
É durante a tarde que a tristeza me invade
Todos os pombos da paz estão mortos
Minhas paixões enterradas
Não tenho forças nem para gritar
Toda minha fúria revoltada
Paro na frente do espelho, ressacado
E flui pela minha mente que sou o vazio
Que inundou minha família de vácuo
Tenho ódio de todo verso que externo
Me sinto sonolento e indisposto
Mas sinto desde já o olor doce e acre do whisky
O cenário esfumaçado e trágico, onírico e eterno.
Vejo uma sombra esmaecer no espírito culpado
Vejo-me em cada momento mais maculado
Fito o vazio com descrença e desânimo
O mesmo vazio pelo qual sempre fui maltratado
Tenho amores que de tão belos me assustam
E não me sinto menos oco por isso
O mundo é um lugar muito duro
Quando se chora insone
Sozinho no escuro
-te encontro nos sonhos, sei que estarás ali
para sempre... jamais morrerias e sei onde estás-
Já que todo o meu verão não é o bastante para aquecer teu mundo
Tudo o que posso fazer é aguardar
Minha vida foi a mais longa das noites
De núpcias interrompidas
Passo-a em claro
Cantarolando em profundo solilóquio.
Bruno Otsuka
17-1-2007
terça-feira, 4 de setembro de 2007
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